A actividade dos vereadores eleitos na oposição será acompanhada no blog Fundao Sempre

29/01/2009

Acção Socialista: Entrevista de António Leal Salvado
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Porque aceitou o convite do PS para ser o candidato à presidência da Câmara do Fundão?
A Concelhia do PS e eu temos a convicção de que o concelho do Fundão precisa de uma profunda viragem na gestão autárquica. A região trava uma séria luta contra os encargos da interioridade, outros concelhos conseguiram já vencê-la de forma notável mas o Fundão está a perder essa oportunidade. E está a perdê-la por falta de uma gestão assente em princípios correctos, por falta de gestão capaz, por falta de uma lógica de trabalho estruturado em métodos modernos, em disponibilidade de trabalho afincado e rigoroso e, acima de tudo, impulsionado pelo profundo conhecimento das 31 freguesias e pelo sincero amor à causa do progresso colectivo.
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O seu nome foi apontado como possível candidato em anteriores autárquicas, mas essa candidatura ainda não se tinha se concretizado. É agora o momento?
Qualquer candidatura surge a partir de dois pressupostos: a oportunidade e a disponibilidade. O PS manifestou-me a expectativa de ser eu um candidato disponível para dedicação intensa a dossiês e métodos que conheço e para que me sinto motivado; e eu sinto-me em condições de responder a esse objectivo. Sentiu o PS e sei eu também que o concelho está num momento de encruzilhada em que a reunião de todas as forças é uma emergência. O concelho precisa, acima de tudo, de vontade férrea para trabalhar e de sincero amor à causa colectiva que supere todas as contrariedades. Com esta dedicação, a disponibilidade determinada para trabalhar e a íntima ligação ao nosso solo e à nossa população, não vemos que dificuldades não possamos vencer.
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Fala de uma consciência e uma vontade comuns entre si e o PS. Sente que a convergência entre um independente e um partido com a forte tradição que o PS tem na região foi (ou está a ser) fácil?
Sem dúvida. Pela minha parte, não sou militante socialista mas a minha visão do mundo é a do socialismo democrático, a de uma democracia aberta submetida ao primado do social. Por outro lado, os concretos interesses do concelho merecem do PS a mesma leitura e as mesmas preocupações que são também as minhas. Mais que uma convergência há uma identidade de preocupações, de princípios e de sentido da responsabilidade cívica perante a nossa terra e os nossos concidadãos.
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Como encara o desafio que tem pela frente?
Não é fácil – mas o cumprimento do dever colectivo nunca se faz de facilidades. Além disso, as principais dificuldades, que decorrem do rumo desgovernado em que o Fundão está actualmente, não nos deixam margem para medir dificuldades. O momento é exigente – mas é por isso mesmo que não podemos virar a cara. Se as coisas estivessem bem na nossa terra, talvez nem fosse necessária a nossa candidatura… Pela minha parte, tenho a consciência de que foi a minha terra que me deu tudo o que tenho e sou – e por isso não há esforço nem sacrifício pessoal que sejam demasiados ou recusáveis.
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Refere as dificuldades e a “emergência” do momento. Isso significa que tem uma impressão negativa do mandato do actual presidente Manuel Frexes…
A nossa candidatura, a candidatura socialista que adoptou a divisa “Todos por Todos”, afirma-se sobretudo pela afirmativa. As nossas preocupações e o nosso programa norteiam-se pelas necessidades do nosso concelho, pelas obras e ideias de que o Fundão precisa para dar o “salto” em frente que outros concelhos já deram, pela acção que sabemos ser possível no sentido de aproveitar as imensas potencialidades do concelho e da região. É claro que a constatação das carências importantes, que o concelho ainda tem actualmente, tem que ver com o rumo que a actual gestão municipal deu – ou não foi capaz de dar – à vida colectiva. Nesse sentido, sim, temos uma visão crítica, severamente crítica, do mandato do dr. Manuel Frexes. Mas, insisto, mais fortes que a nossa indignação pela má gestão do PSD são a consciência de que o Fundão pode ter um futuro melhor e a confiança de que os nossos projectos vão construir esse futuro. Olhamos em frente.
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Ainda assim, já foi observado que o programa socialista tem uma forte componente ética… Tem em mira o ataque a vícios instalados…
É verdade que a ética nos preocupa – até porque a transparência de actuação e o rigor de métodos de gestão têm sido violados, muitas vezes para além do tolerável numa democracia honesta. E a questão da ética vai mais longe do que o respeito pelos princípios: temos dito e demonstrado que a ética é produtiva, isto é, que agir com lisura não emperra a eficácia – pelo contrário, o rigor dos princípios só robustece a eficiência da gestão. Podia dar-lhe exemplos muito concretos.
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Exemplos…
Três simples exemplos: o recrutamento de pessoal baseado no favorecimento e no clientelismo é, além de injusto e imoral, contraproducente, porque uma selecção de pessoal com base no mérito permite dispor dos melhores, motiva todos pelo exemplo, atinge muito melhores resultados (e até mais emprego). Segundo exemplo é o das obras públicas: submeter as obras a concursos públicos sérios permite que se consigam melhores condições contratuais, tal como fazer negociação e fiscalização exigentes é o único meio de evitar o esbanjamento de capitais e assegurar a qualidade das obras. Um terceiro exemplo ainda, comezinho mas ilustrativo: apresentámos já um estudo concreto segundo o qual, eliminando o abuso de aquisição e utilização de automóveis de luxo afectos aos vereadores e principais protegidos políticos, se conseguirá a poupança de avultadas despesas ao Município. Para dar uma ideia, podemos assegurar que a moralização do uso de automóveis permitirá poupar mais de 100.000 euros por ano, percorrendo mais quilómetros ao serviço do Município; e o simples facto de se gerirem os recursos humanos com base no mérito e nas reais funções a desempenhar, permitirá que, mesmo mobilizando mais utilidades e emprego, se despendam menos 800.000 euros anuais, a valores actuais.
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Começar, portanto, pela gestão corrente e das “coisas simples”…
Passa por isso qualquer boa gestão, na res publica como nas empresas privadas. A Câmara é um órgão executivo, cabe-lhe gerir os recursos para fazer face às necessidades. Prometer muitas obras, coisas vistosas e quantas vezes “elefantes brancos” à custa de endividamento descontrolado, é fácil. Não custa nada colocar um Município em falência à custa de hipotecar o futuro com empréstimos desmedidos, esperando que os pague quem vier a seguir. Isso não é gestão, é fantasia, é ruína – e é, muitas vezes, fraude e desonestidade eleiçoeira. O que os cidadãos esperam daqueles em quem votam é que administrem a vida pública como um bom pai de família: com equilíbrio, com critério, com eficiência. É claro que quem tem essa preocupação de rigor ganha fôlego para os grandes empreendimentos que podem transformar o concelho. E no nosso concelho há muitos e importantes empreendimentos para levar a efeito. Só gerindo bem a riqueza poderemos aspirar a concretizá-los.
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Com o concelho a precisar de relançamento, não poderá o eleitorado recear que essa austeridade de gestão se traduza em contracção no investimento?
Pelo contrário. A austeridade é condição da expansão. As regras e a experiência da vida económica demonstram que só quem é criterioso nas despesas improdutivas consegue maneio para o investimento reprodutivo. Só quem é capaz de não esbanjar é que pode investir seriamente.
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Em que sentido se dirigem as suas preocupações principais?
A maior preocupação é o emprego, o principal objectivo é a fixação de população. Primeiro que tudo há que criar condições para que possam viver e singrar no Fundão todos os fundanenses e ser atraídos ao concelho todos os activos humanos e sociais que as potencialidades do concelho permitem perspectivar. O Fundão pode, num futuro próximo, proporcionar aos jovens as expectativas de vida próspera e ambiciosa que não têm tido no passado recente – e permitir que regressem aqueles que tiveram de procurar vida fora daqui mas prefeririam a sua terra e são aqui não só úteis mas necessários.
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Quais são as principais potencialidades do concelho? Como pensa promovê-las?
O desenvolvimento do Fundão tem um enquadramento geográfico e histórico. Há uma linha de “vocações” naturais que sabemos proporcionarem um desenvolvimento com singularidade e sustentabilidade. Essa linha assenta principalmente em três vectores: o património natural, a localização geográfica (em especial a centralidade no eixo Cova da Beira – Beira Interior Sul), as aptidões históricas da nossa população e do nosso território. A conjugação destas três ideias-força aponta no sentido de áreas de desenvolvimento favoráveis: a indústria agro-alimentar, o ambiente, o turismo. A acção bem dirigida sobre o ambiente e o turismo pode ainda potenciar e ao mesmo tempo ser valorizada por uma outra competência específica do concelho: a cultura.
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O turismo e a cultura são já apontados como preferenciais pelo actual executivo municipal. Há diferenças substanciais nas políticas que preconiza?
O Executivo do dr. Manuel Frexes anunciou algumas opções e iniciou algumas vias que são consensuais e que já nós próprios propugnávamos – designadamente no respeitante às Aldeias do Xisto. A definição do turismo dito histórico como opção estratégica é correcta e, por isso, tem de manter-se. Daremos sequência ao que já se fez nesse sector, porque assegurar continuidade é uma questão de política responsável e também porque é nosso dever (e objectivo) corrigir e aperfeiçoar o que foi mal executado em sectores estratégicos. Para além disso, no turismo – e na cultura também – há ainda que levar por diante o que não passou de promessas, de ideias vagas, de meros chavões. Há muito ainda no começo, ou mesmo por começar.
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Mas há também ideias novas… novos rumos de investimento?
Há novas vias de desenvolvimento e há outras que já tardam demasiado e por isso não podem adiar-se mais. Em primeiro lugar, o Fundão tem de conseguir o ensino superior – esta é uma velha dívida que temos por cobrar do Estado e que não tem sucedâneo possível. Os anteriores executivos tomaram esta carência como inelutável, mas nós sabemos que não podemos desistir, é uma questão de vida ou morte, é uma causa indeclinável. O declínio do Fundão começou quando, há 20 anos, perdeu o ensino pós-secundário e nunca mais foi atalhado. Depois, há a ancestralmente adiada planificação da Serra da Gardunha e do manancial inesgotável de recursos que ela contém e que não foram ainda objecto de uma acção séria. Tal como o ensino superior e o aproveitamento da Gardunha, o forte investimento em indústria compatível com as características do concelho e a competitividade que podemos alcançar deve ter como prioridade o sector agro-alimentar. Por outro lado, o conjunto desses investimentos justifica e reclama a instalação do metro de superfície (possível em curto prazo e com investimento moderado) ligando o Fundão e a Covilhã e consagrando finalmente a região urbana da Cova da Beira, como unidade operativa indispensável a uma política de desenvolvimento de que nem as duas cidades nem a Beira Interior podem prescindir.
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Como pensa envolver os militantes e simpatizantes socialistas neste combate? Em que ponto estão a constituição da lista, a elaboração do programa e os contactos com as forças vivas do concelho?
A consciência da urgência – emergência – de passar à prática questões consensuais como aquelas de que lhe falei é o melhor e mais realista tónico para reunir todos à volta do que será uma verdadeira restauração da força deste concelho. As forças vivas estão por natureza envolvidas e têm-nos manifestado largo apoio, desde logo porque estes nossos projectos são anseios seus. Os socialistas comungam diariamente deste entusiasmo e a elaboração da lista candidata não suscitará problemas, para além das questões práticas relacionadas aos vínculos e responsabilidades profissionais das pessoas que queremos agregar. Demos prioridade à constituição de uma vasta equipa que acompanha e contribuirá para a elaboração do programa eleitoral. Candidataremos aqueles que estiverem em melhores condições para fazer o que tem faltado ao concelho: uma acção política de serviço.